Mishpatim: A Perfeição da Torá



A primeira frase da Parashá Mishpatim é a chave para compreender a superioridade da Torá, frente a todos os demais códigos de leis.

Diz Shemot (Êxodo) 21:1 "E estes são os juízos (mishpatim) que colocarás diante deles"

A chave para o entendimento  está na palavra panin (פָּנִים) traduzida com diante deles", mas no sentido literal e face, assim, a tradução  poderia ser: "E estes sao os juízos diante da sua face".

A palavra "panim" sugere uma relação direta e pessoal entre D'us  o povo, como um encontro face a face. Em hebraico, "panim" também pode se referir ao "interior" ou à essência de algo, sugerindo que as leis devem ser internalizadas e compreendidas em profundidade. Assim, פָּנִים (panim) é usada em muitos contextos no hebraico bíblico para referir-se não apenas à face física, mas também à presença ou ao semblante de alguém, especialmente em relação à presença de D'us.

Desta forma os juizos (mishpatim), ganham uma dimensão mais profunda, pois à luz da Kabalah pode ser uma referência ao julgamento interior e à elevação da consciência espiritual. 

Uma regra de direito, ou norma jurídica, é um preceito que estabelece padrões de conduta e comportamento aceitos e esperados em uma sociedade. Essas regras são criadas e sancionadas por autoridades legislativas e têm como objetivo regular as relações entre indivíduos, entre indivíduos e o Estado, e entre entidades públicas e privadas. No caso da Torá é  diferente!!

 A Expressão "diante da face" refere-se a uma dimensão pessoal direta de Deus  com a alma do indivíduo. É  como se fosse uma lei criada exclusivamente para essa pessoa, estando presente face a face, o indivíduo  e D'us. 

Com esta situação, não há necessidade de um estado sancionador, que tem fiscais  ou agentes para saber se a pessoa está ou nao cumprindo as regras. Pois a adesão  às regras de D'us  se faz de forma pessoal, diante de Sua face, que é chamada na cabala de nivel de consciência.

Assim, colocar à sua face" (תָּשִׂים לִפְנֵיהֶם) pode ser entendida como uma referência à consciência individual. Em outras palavras, os juízos (mishpatim) é, antes de tudo, uma adesão da alma, antes que leis externas. Desta forma, cada um de nós é chamado para que julgue suas próprias ações diante de sua própria consciência, que é um reflexo da presença D'us.

Numa visão mais aprofundada a consciência é como um espelho da presença de D’us. A consciência humana é vista como um espelho que reflete a luz divina. Quando agimos de acordo com as mitzvot, alinhamos nossa consciência com a vontade de D'us, elevando-nos espiritualmente.

Veja que incrível!! A Cabalá ensina que cada pessoa tem uma centelha divina (nitzotz) que a conecta a D'us. Essa centelha atua como um "juiz interno", guiando a pessoa a fazer escolhas corretas.

Não  tem  como falar da centelha divina (nitzotz) sem a abordar Shevirat Ha-Kelim (vaso quebrado) e a Luz Encapsulada.

O conceito de shevirat ha-kelim é central na cabalá, especialmente nos ensinamentos do Rabino Isaac Luria. Segundo essa visão, durante o processo de criação, os vasos destinados a conter a luz divina se quebraram, espalhando faíscas de luz (nitzotzot) pelo mundo. Essas faíscas estão encapsuladas nos fragmentos dos vasos, que correspondem às forças do mal (kelipot) e às situações caóticas do mundo.

Juntando os conceitos, temos que o encontro com D'us, face a face (panim), evoca a ideia de que mishpatim não é apenas um conjunto de regras, mas um convite para um encontro íntimo com Ha'Shem. Ou seja, ao cumprir os mandamentos, o indivíduo se coloca diante da face de D'us, expondo sua alma à luz divina.

Desta forma, a consciência de "panim" (face) é como um gabarito que molda a alma, guiando-a em direção à sua perfeição, à estatura do homem perfeito. Assim, como um gabarito define a forma de uma peça, a mishpatim molda a alma em seus estágios de crescimento espiritual (teshuva).

Contudo, a deliberação de obedecer é da sua alma!! 

Você decide se submeter à Torá, que por sua vez, permite ser moldado por ela, e assim, integrará ao povo exclusivo de D'us. 

Daí  vem algo INCRÍVEL!!!

Não  há raça (povo biologicamente especial) mas, yehudim (judeu), pode ser qualquer alma pode alcança  a yechida (que basta yehida (estado da alma que é  uma umidade com Ha'Shem, tornando-se um yehudim (judeu)!! Não é  fantástico??

Desta forma, no coletivo das almas que se submetem à Torá, temos o povo de D'us, povo de "panim" (faces) iluminadas pela lei de D'us. São indivíduos que, ao se encontrarem com o Divino, irradiam a luz da Torá para o mundo.

Vamos parar por aqui, mas imagine ampliar esta reflexão  para o plano de redenção  com a reunião  das luzes encapsuladas dos estilhaços do vaso de luz?!

Mishpatim ante a "panim" (face) é um "gabarito para a alma" que convida você e a mim a uma compreensão mais profunda da Torá. E, ao cumprir os mandamentos com intenção e forma certa, nos tornamos parte de um povo exclusivo, um povo de faces iluminadas pela luz da Torá.

BH !!!

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