VAERA: Antídoto Contra Assimilação
Como Yaacov conseguiu manter a
identidade cultural adquirida em apenas duas gerações (Abraão e Isaac)?
Quais as estratégias ou os
fatores para a não assimilação ante uma cultura mais “elaborada” e predominante?
Qual relação existe entre a
descida ao Egito, por causa da fome, e posterior escravidão e, a realidade dos
judeus que no passado, por causa da 2ª Grande Guerra, foram para os EUA e se
sentem americanos e não retornam para Israel?
E por fim, como você e eu
podemos carregar o legado e as alianças feitas entre Avraham e Ha'Shem, para
sermos identificados como povo de D'us, hoje?
Inicialmente temos que marcar
algumas definições fundamentais para compreender, e não distorcer o assunto:
Em primeiro lugar, judaísmo,
para um judeu, são os valores que guiam os seus passos em suas relações com
outros judeus, com sua comunidade e com o gentio (não-judeu). É um modo de vida
baseado na constituição de seu país, que é a Torá. Portanto, obedecer a Torá é obedecer
às leis do seu Estado, assim como você respeita as normas do país em que vive.
Em outras palavras, não é uma experiência religiosa, mas, antes disso, é uma
relação cidadã com sua legislação, a Torá e as tradições judaicas.
Estes fatores são os que, dão
identidade ao povo judeu, afinal, pelo fruto se conhece a árvore, pelo procedimento
do indivíduo que obedece a Torá, se percebe que é submisso a D'us,
constituindo-se em seu servo, seu povo. Portanto, judaísmo, não é uma
religião.
Quando se trata o judaísmo como
religião tende-se a vê-lo como o islamismo ou cristianismo, que são criações
humanas (Constantino e Mohamed) que são experiências exotérica na tentativa de estabelecer
comunicação com deus, o sobrenatural, e que, qualquer pessoa, de qualquer
nação, pode praticar essa religiosidade, sem perder sua identidade cultural
nacional, apenas adquirindo valores da sua religião.
Assim, passemos a análises de
algumas abordagens que moldam a identidade cultural dos seguidores do judaísmo e
cristianismo.
O judaísmo, desde a formação do
povo de Israel, tem sido a regra que orienta o judeu em todos os aspectos da
vida, no trato da esposa, filhos, no comércio, com a pessoa carente, em sua relação
com a sociedade, numa forma extremamente solidária com a sociedade em geral,
por exemplo, no campo deve-se deixar os cantos cultivados e os frutos que
caírem das mãos do ceifador, para os necessitados!! Isto é lei, e é uma relação
de compromisso com D'us.
Veja algumas características:
O judaísmo abrange uma
vasta gama de práticas culturais, tradições, festas e leis que estão na Torá, e
que são passadas de geração em geração. Essa transmissão em Israel ou no
exílio, é o motor da "cultura", sendo o elemento central para a
identidade do povo judeu.
A Torá e o Talmud não
apenas contêm leis civis e diretrizes para a vida diária, mas também regras de
elevação do nível de consciência, para se aproximar e relacionar-se com D’us!
Isso significa que essa relação
pessoal com D’us e a cultura estão intrinsecamente interligadas.
Mesmo quando dispersos
pelo mundo, os judeus mantêm suas práticas culturais, festivais e língua,
criando comunidades coesas que preservam e celebram seus valores e identidade.
O cristianismo, por outro lado,
é caracterizado por uma identidade espiritual que transcende fronteiras culturais
e nacionais. Seu discurso é missionário, universalista e maleável. Ele se
adapta a qualquer cultura, da ateia à idólatra, rebatizando deidades ou
entidades espirituais, ressignificando seus valores para a religiosidade cristã.
A ênfase em uma relação pessoal
com o seu deus e a salvação individual, sem necessidade de obediência aos
mandamentos bíblicos, permite que o cristianismo seja praticado em diversos
contextos culturais sem necessitar a adoção de uma identidade cultural
específica.
O que diferencia esses dois
sistemas?
Na formação do povo de Israel,
vemos a criação de uma identidade que é ao mesmo tempo cultural e espiritual,
pois o próprio D’us foi quem resolveu criar esse povo como de sua exclusiva
propriedade, criando para eles valores, tradições e festas que reforçam os
valores da Torá (Instrução). Esse povo foi criado para servir de modelo, e de
onde iria sair o Mashicah (Ungido), que restaurará todas as coisas, primeiro
Israel e depois toda a terra.
O povo de Israel começou como
um grupo de tribos com tradições e práticas comuns, que foram conduzidas nestes
valores compartilhados.
O Êxodo do Egito e a Aliança no
Monte Sinai foram momentos fundacionais que moldaram a identidade israelita,
definindo seu propósito e distinção como povo escolhido por D’us.
No Sinai, D’us reafirmou a
aliança feita com Avrahame revelou a Torá (Instrução) que criou a base das relações sociais
e de cada um com Há’Shem, e esta prática se manifestava na vida cotidiana,
reforçando a identidade única do povo israelita.
Em resumo, enquanto o judaísmo
entrelaça relacionamento pessoal com D’us e cultura de uma forma que define a
identidade do povo judeu, o cristianismo permite uma experiência espiritual que
pode ser adaptada a diversas culturas.
A sinagoga, como centro da vida
comunitária, desempenha um papel crucial na preservação e continuidade da
identidade cultural e espiritual do povo judeu, especialmente em períodos de
exílio.
Viver em uma comunidade com uma
sinagoga no centro é uma recriação de um "pequeno Israel" em qualquer
lugar do mundo. Isso é vital para a manutenção da identidade cultural e
espiritual.
A sinagoga não é apenas um
local de oração, mas um centro comunitário onde se realizam atividades
educacionais, sociais e culturais. É um lugar onde as tradições e os
ensinamentos são passados de geração em geração. Nela tem o tribunal rabínico
(Beit Din) que resolve questões legais (segundo padrão da Torá) e espirituais,
aplicando a Halachá (lei judaica). Isso ajuda a manter as práticas e valores bíblico-judaicos
vivos e relevantes na comunidade.
No entorno da sinagoga, tem-se
a presença de serviços como açougues que vendem carne kosher, barbearias e
lojas de produtos kosher reforça a identidade cultural e facilita a prática
diária da fé e das tradições judaicas.
A experiência de viver em
comunidades coesas e autossuficientes, centradas na sinagoga, foi profundamente
desenvolvida no exílio babilônico (século VI a.C.). Durante esse período, os
judeus desenvolveram estratégias para manter sua identidade em um ambiente
estrangeiro.
No exílio, longe do Templo em
Jerusalém, os judeus começaram a se reunir em locais de estudo e oração, que
evoluíram para as sinagogas. Isso permitiu a continuidade da prática ‘religiosa’
e a manutenção da identidade espiritual.
Assim, a sinagoga, deu ênfase
na educação e no estudo da Torá, reforçando e criando uma comunidade educada e
consciente de suas tradições e valores.
Essa estrutura comunitária, com
a sinagoga como centro vital, continua a ser uma das principais razões pela
qual a cultura e a identidade judaica têm sido mantidas através dos séculos,
mesmo em diáspora.
Quando Yaacov desceu para o Egito com sua família, foi em razão da fome e o texto bíblico diz que ele entraram para esta situaão transitória (Viemos para peregrinar nesta terra Bereshit 47.4). Contudo, no verso 27 diz:" e habitou Israel na terra do Egito, na terra de Gósen, e nela tomaram possessão, e frutificaram, e multiplicaram-se muito".
A palavra está que se assentaram, como que se estabeleceram e começaram a ficar como residentes permanentes. Contudo, ocorreu a escravidão e uma das provas que muitos haviam esquecido do pacto de Avraham foi que antes da saída tiveram que fazer circuncisão para poder participar da Pessach (páscoa bíblica). Ora a circuncisão era o elemento fundamental, era o pacto de Avraham com D’us, assinado na carne.
Ambos os eventos representam
momentos de transição e potencial assimilação para o povo judeu. Em ambos os
casos, um grupo deixa sua terra de origem e se estabelece em um novo ambiente
cultural, com o desafio de preservar sua identidade.
Alguns fatores Determinantes na Formação da Identidade no Egito
Sobre a permanência dos filhos de Jacó no Egito, o centro para manutenção da cultura foi a localidade de Gozen, onde a manutenção das tradições e da fé monoteísta em contraste com o politeísmo egípcio foi fundamental para a preservação da identidade.
Na questão dos judeus americanos, a migração de judeus para os EUA, especialmente após a Segunda Guerra, apresenta paralelos interessantes com a descida ao Egito.
Assim como o Egito representava
um novo ambiente cultural para os filhos de Yaacov, os EUA representavam uma nova
cultura para os imigrantes judeus. A sociedade americana, com seus valores e
costumes distintos, apresentava como desafio para a assimilação.
Assim como José encontrou oportunidades no Egito, muitos judeus encontraram nos EUA oportunidades de crescimento econômico e social. No entanto, essa integração na sociedade americana também trouxe o desafio de manter a identidade judaica.
A assimilação foi sem dúvida um dos fatores que não permitiu o crescimento populacional judeu nos EUA. Em 1945, estima-se que havia cerca de 5,5 milhões de judeus vivendo nos EUA. Entretanto l, atualmente tem 7,5 milhões. Se aplicarmos uma taxa de crescimento que ocorre em Israel, que é o centro cultural e de valores judaicos, que é de 1,7% ao ano, a uma população inicial de 5 milhões de pessoas em 1945, a população em 2025 seria aproximadamente 40,7 milhões de pessoas.
Nota-se que população judaica mundial não cresceu nos EUA nem nos demais lugares na diáspora, na proporção esperada. Isso se deve a diversos fatores, incluindo a assimilação por casamentos mistos.
A perda de conexão com o casamento misto leva a identidade judaica.
A título de conclusão, consideramos que o judaísmo transcende a mera prática religiosa; é um modo de vida intrinsecamente ligado à Torá, que governa todos os aspectos da vida de um judeu.
A obediência aos mandamentos é que dá a identidade judaica. A obediência à Torá não apenas reflete uma relação pessoal com D'us, mas também uma aderência a um conjunto de leis e tradições que definem a identidade cultural e espiritual que identifica o praticante como povo de D'us, sendo ele israelita ou não.
BH
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