Morrer para Viver: O Mistério da Fé



Reflita comigo: Por que a Parasha Chayé Sarah (A Vida de Sara) fala sobre a morte dela? E por que a porção Vayechi (E viveu) aborda a morte de Yaacov? Você sabia que cemitério em hebraico é chamado de Beit Chaim (Casa das Vidas)?

Quanto mais me aprofundo no estudo da Torá sob a orientação rabínica ortodoxa, mais sou cativado pela sua transcendência e profundidade. Afinal, D'us prometeu fazer de Seu povo um reino de Kohanim (sacerdotes), uma nação santa, através da qual Ele Se revelaria e os capacitaria a serem uma luz para as nações, não qualquer outro povo, igreja, mesquita, templo ou religião.

A vida, na perspectiva bíblica, interpretada  para quem Ele se revelou, é um presente divinoNão se trata apenas da existência biológica, mas de uma caminhada (pelos caminhos [mitzvot  -mandamentos]) nesta vida.

A vida é um presente, porque D’us resolveu compartilhar a sua bondade criando a vida. A Torá nos ensina que o homem foi criado à imagem e semelhança de D'us (Gênesis 1:27), o que implica em uma dimensão espiritual (não corpórea), afinal D'us não tem corpo!!!

A alma, a essência do ser humano, é imortal. Ela transcende a morte física e continua a existir em um estado espiritual. A tradição judaica, especialmente a Cabala, explora a complexidade da alma, dividindo-a em diferentes níveis: Nefesh (a alma animal), Ruach (a alma vital), Neshamah (a alma divina) e Chayah (a alma superior). É a Neshamah, a parte divina da alma, que nos conecta com D'us e garante a nossa imortalidade.

A morte, na visão judaica, não é o fim, mas uma transição. Pode-se explorar a seguinte questão: considerando que a alma é eterna. A vida biológica  é uma experiência para a alma ou, a vida biológica  é uma oportunidade espiritual  para elevação da alma?

O corpo físico (pó), sendo perecível, retorna à terra, enquanto a alma, imortal, continua existindo. A certeza da vida após a morte é algo tão bíblico e enraizado na cultura judaica que, cemitério, em hebraico בית חיים, "Beit Chaim" (Casa da Vida), é um testemunho dessa crença. Ao chamar o cemitério da “casa da vida”, os judeus expressaram a confirmação de que a vida continua, mesmo após a morte física.

Existe ainda, a noção de que um tsadic (justo) vive, mesmo após a morte, enquanto um rasha (ímpio) é considerado morto, mesmo em vida, e esta concepção está profundamente enraizada na tradição judaica. O tsadic, por meio de suas ações justas e piedosas, cumprindo mandamentos, eleva sua alma a um nível superior. Por outro lado, o rashá, por suas ações contrárias à Torá(anomia), afasta-se de D'us e de sua luz (Torá).

A crença na ressurreição dos mortos -תכנית המתים - Techiyat HaMetim, é um dos pilares da fé biblibo-judaica. A Torá e os Profetas nos falam repetidamente sobre isso:

  • Deuteronômio 32.39:  "Vede, agora, que Eu, Eu o Sou, e mais nenhum deus há além de mim; Eu faço morrer e Eu faço viver; Eu firo e Eu saro; e ninguém há que escape da minha mão."

  • Isaías 26.19: "Os teus mortos viverão, os meus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho é como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos."

  • Ezequiel 37.12-14: "Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. E sabereis que eu sou o Senhor, quando eu abrir as vossas sepulturas, e vos fizer sair das vossas sepulturas, ó povo meu. E porei em vós o meu espírito, e vivereis, e vos porei na vossa terra; e sabereis que eu, o Senhor, disse isso e o fiz, diz o Senhor

Este conceito, Techiyat HaMetim é um dos treze princípios de fé, formulados por Maimônides, e é considerado um dos fundamentos da fé judaica ortodoxa.

Esse conceito não só reafirma a crença na vida após a morte, mas também expressa a esperança de justiça e restauração final. É uma promessa de que a morte não é o fim, e que a bondade, a justiça e a misericórdia de D'us prevalecerão.

As parashot Chyé Sará e Vayechi, ao narrarem sobre a morte de Sara e de Jacó, respectivamente. Essas porções provocam a indagação: se é a vida de Sarah e de Yaacov,  porque fala da morte deles? Essa perplexidade possibilita o aprofundamento sobre os temas vida,  morte e a eternidade. Ao focar na morte desses grandes da fé, Ha'Shem contrasta em nossa mente a vida terrena é apenas uma etapa de nossa vida, e a oportunidade para cumprir as mitsvot, pois Ele disse:

Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus requer de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma. Dt 10.12

Assim, a vida é um presente sagrado e a alma é imortal, e, por outro lado, a morte é uma transição para outro estado da existência.

Na perspectiva bíblico-judaica, a vida é considerada uma oportunidade única e preciosa para praticar,  cumprir os mandamentos (mitzvot) e realizar boas ações. A morte, põe fim a esta possibilidade de cumprir mitzvot!!

Que vivamos as nossas vidas de forma aprovada por D’us e que as palavras da nossa boca e o meditar do nosso coração  sejam agradáveis ao Eterno.

BH

 

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