Korach: um paradigma cristão

 


Korach foi um personagem bíblico que desafiou a autoridade de Moshé e Aharan, utilizando para a força de sua argumentação palavras da Torá dizendo: "Vocês se acham muito importantes, pois toda a congregação é santa, e o Senhor está no meio deles. Por que, então, vocês se colocam acima da assembleia do Senhor??" Bamidbar 16.3

É verdade!!! Toda congregação é santa, e Hashem, Está no meio deles!!!

Na análise do discurso, a utilização de afirmações verdadeiras para torcer o sentido e induzir um grupo ao erro é uma técnica conhecida como manipulação discursiva . Essa estratégia, utilizada por líderes em diversos contextos, busca influenciar a percepção e as ações do público de forma sutil e enganosa. Para não ser enfadonho, o mecanismo que utiliza korach é simples, conhecido como mecanismos de manipulação:

Seleção e Ênfase: O líder seleciona informações verdadeiras, mas relevantes para sua agenda, ignorando ou minimizando outros fatos importantes. Assim, distorce ‘o todo’ da verdade focando apenas no aspecto que lhe apetece.

Enquadramento: O líder manipula as informações verdadeiras de uma mensagem, para moldar, com escolha de palavras, a sua versão.

Falácias Lógicas: O líder utiliza falácias lógicas, como generalizações, para fortalecer seus argumentos. A verdade é a base para a falácia, tornando o discurso mais convincente, contudo, é plenamente falsa a sua conclusão. (Se você vê outras formas, comente, abaixo).

Ao afirmar que "toda a congregação é toda santa", Korach tenta deslegitimar ou tirar a autoridade de Moshé e Aharan, sugerindo que se todos são santos, quem são eles para se imporem como líderes? Afinal, todos os israelitas são iguais perante Deus, para liderar o povo. Argumento é doce ao paladar de todos, tem aparência de equidade e justiça. Com isso, semeou no coração a dúvida da ‘autoridade’ de Moshé, e por outro lado, sem que o povo percebesse, estava rejeitando a D’us, que ungiu, coroou, deu a legitimidade.

Ao mesmo tempo que ‘passava mel nos lábios’ do povo com um discurso democrático, se colocava implicitamente como o líder intrépido e visionário, descobridor dessa ‘verdade’: somos todos santos portanto, iguais em direitos e obrigações”. Esta escola ideológica de Korach é a que todo ditador utiliza para dar golpe de Estado, e para se legitimar no poder.

Os que seguiram Korach se deram mal  pois desejavam a renovação da liderança, contudo, o desejo de seus corações afrontava deslegitimava a D’us, autor e legitimador de toda liderança.

Essa atitude de Korach, interpretar a palavra e mensagens da Torá, reinterpretando para seu interesse, desviando os seus seguidores da verdadeira mensagem, dita e exposta dentro de contextos específicos e com confirmações proféticas e históricas que dão legitimidade e certeza à uma determinada mensagem da Torá, guarda algumas semelhanças com o Cristianismo. Vejamos, se me equivoco:

1 - No contexto geral, o evento de Korach foi, temporalmente, próxima à revelação da Torá, que, distorcendo a mensagem das Sagradas Escrituras, tentou retirar a liderança  de Moshé, usando os próprios argumentos da Torá, desfocando do fato histórico e profético de que D’us levantou Moshé como líder para levar o Seu povo, para o Monte Sinai e depois à Terra Santa, cumprindo a promessa feita à Avraham renovada para Isaac e Yaacov. E, num plano ainda mais macro, revela o plano de Hashem de, pela descendência de Avraham, sair o redentor de toda a humanidade, começando pelo povo de Israel e depois todas as nações.

2 – No contexto geral, o evento do surgimento do cristianismo foi, temporalmente, próxima à revelação do Mashiach (a Torá viva), que, distorcendo a mensagem das Sagradas Escrituras, tentou retirar a liderança dos emissários (Shaliach) do Mashiach do povo de Israel, usando os próprios argumentos da Torá e da vida do Mashiach, desfocando do fato histórico e profético de que D’us levantou Yeshua como líder para cumprir o propósito do Servo Sofredor (tipificado como uma espécie de Mashiach bem Yossef, [Zacarias 9.9-10]), que veio exclusivamente para resgatar as ovelhas perdidas da Casa de Israel (Reino do norte de Israel), fazendo o início da redenção, para se espalhar para toda a terra, povos e línguas, que o Mashiach, chegou e que restaurou a conexão dos descendentes das Tribos Perdidas com Hashem, para, após essa divulgação, ele retornar para a redenção final (nas nuvens Daniel 7:13-14), agora, como Rei, Mashiach bem David, que levará o Seu povo, para Terra Santa. 

Assim, estará cumprindo a promessa feita à Adan e Avraham, que foi renovada para Isaac e Yaacov. E, num plano ainda mais amplo, revela o plano de Hashem de, pela descendência de Avraham sair o redentor de toda a humanidade, começando pelo povo de Israel e depois todas as nações.

Nossos sábios dizem que se um gentio se converter ao judaísmo e seguir a Torá com perfeição, ele é considerado tão grande quanto Moisés e Aarão (Tratado Yevamot 63ª). Portanto, não devemos seguir religião, mas amar a D’us acima de todas as coisas e praticar a Torá, que conforme D’us mesmo diz: é eterna.

Se quiser para a leitura por aqui, já fico satisfeito, porém se quiser aprofundar, veja:

 

Assim como Korach tentou desafiar a autoridade de Moisés e Aarão, esses grupos muitas vezes buscam reinterpretar as escrituras judaicas para encaixarem em suas próprias ideias. Korach, criou algo diferente do  judaísmo, então  nascente, que ele experimentava: O judaísmo, na prática, é de livre interpretação porém, com foco exclusivo na Torá e profetas, sem desfocar que a benção do raciocínio lúcido e coerente com o plano de redenção, é inspiração de Kadosh Baruch’hu.  Assim, Korach inventou uma interpretação teológica (sistema fechado de interpretação) e doutrinária (regras dogmáticas dessa interpretação), estes dois aspectos, que não se tem no judaísmo. No entanto, é importante lembrar que a Torá é a palavra de D’us dada ao povo judeu, e sua interpretação deve ser feita dentro dos limites estabelecidos pela tradição judaica e pela autoridade dos sábios e rabinos ao longo dos séculos.

A regra é a fidelidade aos ensinamentos originais da Torá e da tradição judaica, rejeitando qualquer tentativa de distorcer ou reinterpretar as Sagradas Escrituras para atender a interesses pessoais ou ideológicos. 

Vejamos alguns paralelos incríveis entre o discurso de Korach e o do cristianismo.

O Discurso de Korach, como dito, ocorre após a revelação da Torá no Monte Sinai, um momento de grande santidade. A experiencia da saído do Egito, com todos os milagres, o sustento no deserto com água e alimento por um ano, para 3 milhoes de pessoas e a entrega da Torá, ainda estavam frescas na mente de todos, quando sedde desse discurso,  e estavam a estruturar a organização social e a moldagem das práticas e relações sociais (religiosidade), se consolidavam.

O discurso do cristianismo desde seus primeiros passos foi num gradual e seguro caminho para afastamento do judaísmo, suas práticas bíblicas, formulando, a conhecida e propalada até os nossos dias, a Teologia da Substituição: “a Igreja é o novo Israel de Deus”.

Esta Teologia da Substituição surge nos primeiros séculos do cristianismo, em um período de grandes mudanças políticas e estruturais do Império Romano, marcado, no aspecto religioso,  por debates teológicos, disputas pelo poder e tensões entre o judaísmo e o cristianismo nascente.

Com a Teologia da Substituição, a legitimidade do povo de Israel como uma ‘nação de sacerdotes” foi colocada em dúvida, semelhante ao que fez Korach. Isso não te incomoda? Quem disse que o povo de Israel foi substituído? Quem revogou esta parte da Torá, que é eterna: “povo consagrado, dentre todos os povos da terra. Pois toda a terra é minha. Vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa."? Shemot [Ex.] 19:5-6

Semelhantemente à Teologia de Korach, a Teologia da Substituição questiona a autoridade de D’us em constituir as autoridades e por em dúvida os líderes judaicos e a validade do judaísmo como religião criada por D’us, relegando-o a uma posição inferior ao cristianismo.

 Essa Teologia de Korach, e a da Substituição, que oferece uma interpretação alternativa da Torá e profetas, discordando da interpretação tradicional judaica e afirmando que Jesus (que não era rabino, nem fariseu, que desprezava o judaísmo, que revogou a Torá, cravando-a na cruz) representa-se como, o cumprimento das profecias messiânicas. Essa interpretação discorda da fé judaica na Torá, como palavra eterna e inalterável de D’us, é o fundamento dessa teologia.

Veja algumas frases muito populares dos fundadores do cristianismo, muito propriamente chamados de ‘Pais da Igreja’:

Justino Mártir (100-165 d.C.), em  Diálogo com Trifão:

"Os cristãos são os herdeiros legítimos das promessas feitas a Abraão e seus descendentes." (Diálogo com Trifão, 40)

"O templo em Jerusalém foi destruído porque Deus não o considerava mais necessário. A verdadeira casa de Deus é agora a Igreja." (39)

"Os sacrifícios animais do Antigo Testamento não eram mais necessários porque Cristo, o Cordeiro de Deus, se sacrificou uma vez por todas pelos pecados da humanidade." (40)

"A Igreja é o novo sacerdócio, mediando entre Deus e a humanidade." (111)

 "Os cristãos são a nova Jerusalém, a cidade santa descida do céu." (16)

"A Nova Aliança em Cristo substituiu a Antiga Aliança feita com Moisés." (43)

"Os cristãos são o verdadeiro povo de Deus, cumprindo as profecias feitas sobre Israel." (110)

Essas citações exemplificam a visão de que o cristianismo é o sucessor do judaísmo e que os judeus que não se convertem estão excluídos da salvação.

 João Crisóstomo (347-407 d.C.): "A Igreja cristã é a nova Israel, e os judeus que se recusam a converter-se estão condenados à perdição eterna." 

 Agostinho de Hipona (354-430 d.C.): "A Torá é apenas uma sombra da verdade que foi revelada em Jesus Cristo. Os judeus que se apegam à antiga lei estão cegos para a verdadeira luz do evangelho." 

Essas citações subestimam a importância da Torá para o judaísmo e colocam o cristianismo em uma posição superior, alimentando a teologia da substituição e transpirando anti-semitismo. 

Essa Teologia da Substituição teve um impacto muito forte nas relações entre judeus e cristãos desde o início, no ano 100, passando pelas perseguições da baixa idade média, depois com as cruzadas na idade média, a inquisição na alta idade média, reforma protestante, chegando até a segunda guerra mundial com o ‘holocausto’. 

Quase sempre, a teologia da substituição, foi utilizada para justificar a discriminação, segregação e até mesmo violência contra os judeus.

Por fim, a Teologia de Korach e a Teologia da Substituição, apesar de separados por séculos e contextos distintos, compartilham um tema central: A substituição de autoridades constituídas por D’us, semeando dúvidas e dando interpretação das sagradas escrituras conforme seus próprios desejos e interesses.


 

BH!!!

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