Perdão: serafins do Éden e da Arca da Aliança



Perdoar, é uma deliberação consciente que apaga vínculos emocionais, quebra o passado, vivifica o presente e traz novas perspectivas para o futuro, por não ter, mas o retrovisor do passado. 

Em Bereshit 3.24 diz que Hashem expulsou Adan e Hava e “pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada flamejante que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore...” e em Shemot 25.18 disse para reproduzir dois querubins na tampa da Arca da Aliança

Qual o simbolismo destes dois querubins que guardavam o caminho da árvore da vida, e destes que guardam as Tábuas da Aliança?

Que conexão ao nível sod existe entre as razões espirituais, entre e a liberdade de consciência e a obediência à ética de D’us?

 

Em Bereshit (Gênesis) 3.24, temos algumas certezas. Os querubins esyavam para guardar o caminho da árvore-da-vida e não para impedir que nossos pais voltassem. Os querubins nos lembram que a entrada no Gan Eden e a comunhão com Deus exigem pureza, justiça e uma vida em conformidade com os mandamentos de D’us. Nossos pais no Éden não voltariam por duas razões: consciência do erro (evento traumático) e temor a Hashem (respeito à palavra de D'us). 

Neste contexto os querubins, representam a presença divina e a santidade, enquanto a espada flamejante representa a justiça divina e a sentença pronunciada, a saber: as consequências para o homem, para a mulher e toda criação que passará por dificuldades e terão a morte.

Por outro lado, temos os querubins na tampa do caporet. Estes, estão a guardar o caminho da árvore-da-vida, pois foi dito em Devarim (Deuteronômio) 30.19-20, D'us disse ao povo de Israel: "Eu tomo hoje por testemunhas contra vós o céu e a terra; a vida e a morte tenho proposto diante de ti, a benção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando a Hashem teu D'us, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e a longura dos teus dias".

Assim, temos na presença destas duas cenas, simbolicamente, a memória do erro e sentença de morte, e por outro, a memória do perdão (se fizermos retorno a D'us [veredas antigas] e obedecermos aos seus mandamentos,  que não são penosos) e a vida (no olam haba - mundo vindouro).

Os querubins representam a presença de Hashem e a santidade do local, pois foi dito 'seja separado em obediência (kadosh) assim como Eu Sou Separado' traduzido como ' sede santo como Eu Sou santo'.

Os querubins do Jardim do Éden e da Arca da Aliança lembram à humanidade de sua queda e da necessidade de buscar a reconciliação com D'us; a presença deles nas duas situações (Édén e no Sinai) evidenciam a seriedade de uma vida consciente em obediência a Hashem porque eles são guardiões e não permitem que chegue o que é comum, recordando a importância da separação (santidade) da pessoa, sem a qual ninguém verá a D'us. Por outro lado, vivendo segundo as instruções (Torá) de Hashem, pode-se disfrutar nesta vida com propósito e significado.

 

Para aproximar de Hashem, ele estabeleceu seus mandamentos, porque Ele disse: 

 

Que nas bordas das suas vestes ponham tzitzit (cordões trançados) pelas suas gerações;... E o tzittzit vos serão para que, vendo-os, vos lembreis de todos os mandamentos de Hashem, e os cumprais;... Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e assim sereis separados em obediência (santos) para Hashem, vosso D'us.  Números 15:38-40

 A teshuva em hebraico, é retorno a D'us. Pressupõe consciência de que está fora dos princípios e da Instrução (Torá), e para isso o arrependimento e uma vida em obediência aos mandamentos de D'us são essenciais. 

 

É PRECISO TER CORAGEM  

Ao fazer teshuva você se depara com seus traumas do passado, seus erros, pessoas que te magoaram, prejudicaram, causaram prejuízos. O que fazer para não ficar olhando pelo retrovisor?

 

Reconciliação com D'us e com o próximo. 

 

Perdoar é  uma ação, uma deliberação consciente da alma em não var mais valorizar, dar crédito, dar relevância a fato passado, de forma que não mais vinculem ou direcione às suas emoções e ações no  presente.

Perdoar não é uma reação. A vingança, o ódio, a amargura, ou, procurar os seus direitos na justiça, é reação.

Perdoar é uma posição e liberdade de consciência e exercício do livre arbítrio. É o ato de decidir renunciar direitos, justificar ações e quebrar os vínculos emocionais e obrigacionais com o passado, com propósito de reconciliar ofendido e ofensor, credor e devedor. Perdoar e o ato mais sublime de desvestir-se de uma prerrogativa justa, para reconectar-se com o próximo. Exigir algo, é exercício de direito, mas perdoar, é exercício de hessed (misericórdia, bondade). 

 

 

E se o ofendido não perdoar?

Quando o ofensor procura o ofendido e este resolve não perdoar por razões de fundo moral e/ou de direito, como por exemplo: um golpe que uma pessoa aplicou décadas atrás, e fez com que a parte ofendida passasse por dificuldades e restrições na sua vida, às vezes gerando divórcio, por exemplo. Em Mishné Torá, Maimônedes, todo judeu é estimulado a perdoar, e não guardar rancor, contudo se o ofensor procura o ofendido por três vezes e o ofensor não perdoa, ela não está mais obrigada a perdoar. A ideia de Rambam é baseada na interpretação do versículo de Amós 1:3, que diz: ‘por três transgressões de Damasco e por quatro, não retirarei o castigo’. O Rambam entende que essa passagem indica que, após três pedidos de perdão, a pessoa ofendida não é mais obrigada a perdoar, reconhecendo a liberdade da pessoa ofendida em decidir se perdoa ou não. 

 

Não perdoar pode ter várias consequências negativas para a pessoa:

Ressentimento e amargura, que induzirá a manter vivo esses sentimentos negativos, ano após anos, podendo gerar doenças psicossomáticas;

Dificuldade em super o passado, enfrentar novos desafios na vida, sem a âncora pesada do passado. Pode impedir avanço profissional, progresso pessoal e a cura emocional.

Afastamento, distanciamento e deterioração do relacionamento entre as partes envolvidas. 

Impacto espiritual: no judaísmo, o perdão é considerado um valor espiritual de grande relevância. Não perdoar pode afetar a conexão com D'us e a capacidade de se aproximar dEle, pois o arrependimento e o perdão são fundamentais para a shalom (paz, alegria, vida espiritual plena, e equilíbrio).

 

É a conexão entre o perdão e a liberdade de consciência que reflete a imagem de Hashem

A liberdade de consciência permite que cada indivíduo explore e desenvolva sua conexão pessoal com D'us e haja naturalmente, a saber, com base nas instruções (Torá) e buscar uma conexão espiritual e uma compreensão mais profunda com Hashem, a pessoa deve ter capacidade de tomar decisões éticas conforme a Torá (ética de D'us). No nível sod, o nível místico, oculto da interpretação da Torá, pode haver conexões mais profundas e complexas entre os símbolos do Éden e da Arca da Aliança, que aqui aprofundei ao nível pueril. 

Que possamos com base no simbolismo dos querubins que guardavam o caminho para a Árvore da Vida, motivada pelo erro no Jardim do Edén e nos, da Arca da Aliança, no Sinai que estão guardando a santidade da Torá, que é arvore da vida, posicionarmos na estrada da nossa vida sem olhar pelo retrovisor dos nossos erros, mas considerá-los para perdoar, desapegar, e olhar para frente, para o Sinai, onde está a Sagrada Escritura, a qual é o manual de vida e liberdade que nos conduzirá a shalom.

BH

 


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