Pedindo a D'us nos méritos e em nome de...: diferenças e práticas judaicas

 

Como se deve interpretar em "nome de" ..., e, ou nos "méritos de"...? É como uma procuração ou tem outro significado?

Uma frase traduzida não consegue evidenciar toda carga cultural que vive em suas letras.

 A cultura judaica é antes de tudo prática porque foi dito, 'naassê vê nishmá', faremos e ouviremos (Shemot 24:7) refletindo o maior valor judaico, da prática, como 'edut' (testemunho) dos valores da Torá que se exteriorizam pelas obras pessoais e/ou de uma comunidade.

Aqui começa a ideia de valor da ação, como ato meritório, que, por exemplo, não dá para emprestar este substrato cultural para "em nome de".

Quando se faz algo em nome de... está expressão é mais indicativa de quem está com uma procuração, está agindo segundo os poderes outorgados. O substrato desta fórmula está mais ligada à ideia de representação, cujo representado poderá ou não ter algum valor, mérito pessoal

No mérito de... traz a autoridade moral, axiomática, valorativa a quem se faz referência.

Retomando, a prática judaica milenar de fazer algo nos méritos de um tzadik foi traduzido para cultura ocidental como em nome de ..., pelo cristianismo, para desvincular da nova religião que se estava criando. (Se quiser aprofundar neste ponto click aqui). 

Veja este diálogo que retrata a cultura judaica, no tratado Baba Batra. O Rabino Meir, numa discussão sobre mérito humano em suas obras, reporta-se a pergunta de um ímpio:

Se Deus ama os pobres, por que razão Ele mesmo não os apoia? Nesse caso, diga-lhe: Ele nos ordena que atuemos como Seus agentes no sustento dos pobres, para que através deles sejamos creditados com o cumprimento das mitsvot.

Neste diálogo, percebe-se a relação entre consciência e as ações de tzedaká de um judeu como fruto do entendimento de que somos coparticipantes com Hashem na construção de um mundo melhor (ticum). Por exemplo, na cultura judaica, fazer uma ação de caridade, conhecida como tzedaká, ou construir um hospital, são consideradas ações meritórias. Conforme o Talmud, quando alguém realiza uma boa ação em nome de um tzadik (justo), essa ação é creditada tanto para uma pessoa que fez quanto para o tzadik em cujo nome foi feito.

O Talmud, no mesmo tratado, Baba Batra 10a, ensina que quando alguém constrói uma sinagoga, uma escola, um hospital ou qualquer outra instituição de caridade em nome de um tzadik, essa pessoa compartilha dos méritos do tzadik. Isso significa que uma pessoa que realiza essa ação é abençoada e recebe uma porção dos méritos espirituais do tzadik.

Essa ideia é fundamentada na crença de que os justos (tzadikim) têm um poder espiritual especial e que suas boas ações continuam a ter um impacto positivo mesmo após sua morte.

Ao realizar uma ação em nome de um tzadik, se está confirmando e honrando seu legado, retidão e, ao mesmo tempo, conectando-se com sua energia espiritual, com seu ensino, sua vida! Devo salientar que orar, rezar, junto à sepultura de um tzadik como Avraham ou David Melech não é idolatria, Pois se pede a D'us, nos méritos destes. Esta é uma prática antiga conhecida como 'tefilat hakever (oração no túmulo), se fazia próximo aos túmulos dos profetas, sábios, tzadik em geral. Na linha Chabad é muito comum rezar nos méritos de um tzadik, junto à sua sepultura, já na linha Nazarena, sempre faz nos méritos de Yeshua, que está vivo.

E para "complicar" para o conceito ocidental que gosta de publicidade, likes e reconhecimento social, as ações praticadas tanto do tzadik (justo) em nome de quem se faz, quando da pessoa que está fazendo, deve ser em amor ao próximo e para cumprir os mandamentos da Torá, e não para buscar benefícios, promoções pessoais ou reconhecimento social.

Atenção, quem faz algo nos méritos de..., todo o valor, o mérito, a glória é direcionada a HaShem, porque, tanto o que fez, quanto ao justo (tzadik) que recebeu o mérito, repercutem como cocriadores de um mundo melhor, pois foi feito em obediência à Torá, semelhantemente quando o homem e a mulher trazem uma nova vida(alma) a este mundo, foram cocriadores com Hashem para trazer uma nova vida(alma) para este mundo, e é D'us, em verdade, que fez tudo: tanto o querer quanto o realizar.

BH