Graça: um engano conveniente
A palavra é uma semente que, mal semeada ou nutrida, comprometerá seus frutos.
O conceito de graça (favor imerecido) do mundo ocidental é um engano conveniente, e demonstraremos com honestidade e dentro da Bíblia e da cultura judaica, de forma que ao terminar a leitura não só compreenda o assunto, mas que seja um conhecimento para fortalecer a sua experiência com D'us.
O que nos moveu a escrever esta reflexão foi pérfida ideia que existe na cultura ocidental que a graça é melhor que a Lei, que a graça teria, de alguma forma, prevalência, ou relevância, ou, ainda, num sistema de pesos e valores, algo a mais que a Lei, sobrepujando-a. Nada mais falsa, pervertida, antibíblica e antissemítica, que essas ideias, senão vejamos:
Vamos primeiro entender, o conceito de graça (chesed) e Torá.
De acordo com a perspectiva judaica, tanto a graça (חֶסֶד chesed) quanto a Torá têm um valor significativo e não podem ser colocadas em uma escala para procurar aferir ou conferir maior ou menor grau de importância. Ambos chessed (graça) e Torá desempenham papéis essenciais na vida prática judaica e são fundamentais para a nossa vida em relação à D'us e com o próximo. Apenas lembrando que no judaísmo não existe a visão da vida material e vida espiritual, apenas vida.
A Torá é a base da nossa experiência com D’us. Ela é considerada a Palavra Revelada, as Sagradas Escrituras, como o próprio D'us diz:
Deuteronômio 4:2 - "Não acrescenteis à palavra que vos mando, nem diminuis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando."Deuteronômio 12:32 - "Tudo o que eu vos ordeno, observareis para fazer; nada lhe exija, nem diminuireis."Provérbios 30:5-6 – “Toda palavra de Deus é pura;Isaías 40:8 - "A erva seca, a flor cai, mas a palavra de nosso Deus permanece para sempre."
Até o 'Novo Testamento' confirma:
'...a lei é santa e o mandamento santo justo, e bom. Ora, se não faço o que desejo, tenho que admitir que a lei é boa. Romanos 7:12
Em poucas palavras, a Torá é a própria palavra de D’us, na qual estão presentes os mandamentos, e orientações que devemos seguir para viver uma vida justa e moral. A Torá é a fonte de sabedoria que nos guia em todos os aspectos da vida, desde as nossas relações, familiares, passando pelas, de vizinhança, comunidade, comerciais, sexuais, de poder... todas, à exceção de nenhuma, inclusive quando seguimos essas leis éticas, estamos exatamente nos conectando com D’us.
Por outro lado, a graça (chesed) é um princípio fundamental do judaísmo que se refere ao ato de fazer o bem aos outros, demonstrando bondade, compaixão e generosidade. É um valor central que nos lembra de tratar os outros com amor e respeito, ajudando-os em suas necessidades e compartilhando o que temos
Como a Torá é um livro judaico, escrito em hebreu, é necessário compreender essa cultura, e como ela interpreta o seu próprio livro, para não criar uma nova ideia fruto do desconhecimento das fontes culturais para a interpretação fiel ao que o texto quer expressar.
Aprofundando um pouco na cultura judaica, pode-se ver que no judaísmo, a graça (chesed) e a Torá são conceitos que coexistem e se complementam, em vez de serem vistos como opostos, concorrentes ou em rivalidade.
Ambos têm um papel importante na perspectiva valorativa, axiomática no Talmud. A graça (chesed) é um princípio fundamental do judaísmo que se refere ao ato de fazer o bem aos outros, demonstrando bondade, compaixão e generosidade.
Diante do exposto, podemos fazer a primeira conclusão estrutural: não devemos colocar a graça e a Torá em uma escala de importância, pois ambas são essenciais para a vida judaica plena, assim como o sangue e o oxigênio que nele está, para uma célula. Devemos nos esforçar para estudar e seguir a Torá, ao mesmo tempo em que praticamos a graça e a bondade em nossas ações diárias.
Torá: é lei ou instrução?
A Torá é a palavra de Hashem, o nosso Deus, revelada a Moisés no Monte Sinai. Ela é composta pelos cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. A Torá é uma base do judaísmo e contém as instruções divinas para a vida judaica, abrangendo uma ampla gama de temas, desde leis rituais e éticas até histórias e ensinamentos espirituais.
A Torá é conceituada como uma instrução de Hashem porque ela é uma revelação direta de Deus ao povo judeu. Ela é considerada sagrada e divinamente inspirada, contendo as orientações e mandamentos que Hashem deseja que sigamos para viver uma vida justa diante dEle.
O que pensa um judeu quando se diz lei?
Quando se fala em lei no judaísmo o pensamento está ligada a duas vertentes:
O conceito das normas estabelecidas pelas autoridades civis e governamentais para governar a sociedade. Como povo de D’us na diáspora, somos obrigados a cumprir as leis civis e as obrigações das autoridades governamentais, desde que não entrem em conflito com os princípios e mandamentos da Torá.Leis da Torá que abrangem aspectos sociais, fornecendo orientações espirituais e éticas que transcendem as leis humanas. Dentro destas temos Halachá (conjunto de leis e preceitos judaicos que regem a vida religiosa e a prática), que se subdivide em:Halachá D'oraita (que trata do ‘como cumprir’ os 613 mandamentos encontrados na Torá – sobre Shabat, comidas, orações, etc); eHalachá Derabanan, que trata das leis rabínicas (promulgadas pelos rabinos ao longo dos séculos).
O que entende o judeu por chessed (graça)
Chessed é palavra hebraica que significa objetivamente "bondade" ou "misericórdia", traduzida pelo mundo ocidental cristão como graça. Na tradição judaica, chessed é um valor fundamental que se refere a agir com generosidade, compaixão e amor ao próximo. É um ato de fazer o bem sem esperar nada em troca.
A importância do chessed para o Tikkun Olam (reparação do mundo) é significativa. Veja, ao praticar atos de chessed, estamos contribuindo para a construção de um mundo melhor e mais justo, ou seja quanto mais graça praticamos, mais contribuímos com a reparação do mundo. O Tikkun Olam envolve a responsabilidade de cada indivíduo em ajudar a melhorar a sociedade e reparar as injustiças.
A graça (chessed) também desempenha um papel importante na (geulah) resgate (salvação no conceito ocidental), que se refere à redenção pessoal e coletiva. Acredita-se que, ao praticar chessed, estamos nos aproximando da redenção, pois estamos seguindo o exemplo de D’us, é a fonte suprema de bondade e misericórdia (graça).
Observe que o conceito de graça não está ligado a um ‘favor imerecido’, mas, a misericórdia e bondade. O chessed é valorizado tanto no nível pessoal quanto no coletivo por seus efeitos de restauração e redenção (salvação no conceito ocidental).
Descrevendo a graça de forma mais prática no pensamento judaico. Ao nível pessoal, o chessed está em cultivar um coração terno, solidário, a desenvolver empatia pelos outros e a fortalecer nossos relacionamentos. Ao nível coletivo, o chessed promove a coesão social, a solidariedade e a construção de uma sociedade mais fraterna e harmoniosa. Portanto, o chessed é de extrema importância e relevância tanto para o Tikkun Olam quanto para a geulah pessoal e coletiva. É uma prática que nos faz um com Ele, que nos conecta as almas com as de todos e com Hashem, e transformamos o mundo para um melhor nível.
Como se vê não tem nada de favor imerecido!
Quando começa a confusão
O engodo começa quando essa teologia ressignifica Torá, para um conjunto de regras obrigatórias (lei), e que graça, seria a liberdade, a bondade o perdão que me isentaria de cumprir a lei!!. Com a graça, estaria livre da lei!
Com a ideologia de que D'us rejeitou Israel e fez da Igreja um novo povo, o Israel espiritual, chamada de teologia da substituição, passou-se, sistematicamente, construir uma teologia que desqualifica o povo Judeu para validar esse novo povo. Assim, torceram conceitos e expressões hebraicas para combinar com a teologia que os pais da igreja tinham em mente, como, por exemplo:
Dividir a bíblia em velho e novo testamentos, com a ideia de que o velho estava ultrapassado e de cunho histórico, e o que estava valendo era o novo Testamento'.
Outra, ocorreu com a palavra assembleia, que em hebraico é 'kahal', e em grego, ekklesia. Em toda bíblia a expressão assembleia nos originais em hebaico e em grego. Ocorre que em Atos 7:38 a palavra ekklesia foi traduzida como assembleia e não como todas as demais vezes do 'Novo testamento, onde essa palavra aparece. Sabe por quê? É que o texto falava de Moisés e a assembleia no deserto do Sinai:
"Este é o que esteve entre a congregação (ekklesia) no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida para no-las dar. Atos 7:38
Não traduziram como igreja porque ekklesia que era apenas designativo de reunião de pessoas (assembléia / congregação) passou a ser uma organização religiosa (a igreja primitiva).
Além disso, para o propósito que tinham em mente, tinham que alterar tudo que pudesse lembrar o judaísmo. Por isso, criaram novas festas, alteraram as datas das que são inevitáveis, como páscoa, e ressignificaram toda mensagem da Bíblia, escolhendo palavras, como essa (igreja) acima dita.
Por que graça passou sobrepujar a Torá
Como visto, graça (chessed) é bondade, misericórdia. Quando se aplica à realidade de Hashem para com o homem, continua sendo chessed, misericórdia.
Ocorre que, na mente ocidental, foi conveniente traduzir Torá como Lei, e a Graça como bondade imerecida, induzindo a ideia de graça como meio de liberdade da lei. E isto porque facilitaria a construção da teologia da substituição.
Desta forma, é conveniente que a Torá seja interpretada exclusivamente como lei, que é algo que induz o pensamento de limitador da liberdade, que aprisiona, sendo um fardo difícil para se carregar. E, contrapondo a isto, tem-se a liberdade materializada no conceito de graça, que é um dom de deus e fruto de uma bondade imerecida, que o homem jamais poderia alcançar, e por isso: um favor imerecido.
Em palavras praticas, a Torá, traduzida como lei, é apresentada como grilhões de letras no papel, que aprisiona a alma humana em um labirinto de obrigações e proibições. Cada letra, menos uma liberdade, cada passo, uma possibilidade de transgressão e assim a liberdade é sufocada por uma teia de regras e normas que definem o que é certo e errado. Nada mais perverso, desfocado dos conceitos bíblicos e antissemita!!! Puro lixo intelectual e miopia moral.
A Torá é a máxima expressão da liberdade mesmo no chamado “Novo Testamento”:
Aquele, porém, que atenta bem para a Torá perfeita, Torá da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte negligente, mas praticante, este tal será feliz no seu feito. Tiago 1:25Não penseis que vim revogar a Torá ou os Profetas; não vim para revogar , vim para cumprir. Mateus 5.17Na cadeira de Moisés, se assentam os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem" Mateus 23.2,3.
O capítulo maior da Bíblia é o Salmo 119, e ele é uma só declaração de amor à Tora. Dele destaco o verso 44 "Assim, observarei de contínuo a tua Torá, para todo o sempre. E andarei em liberdade; pois busco os teus preceitos."
A confusão entre a Torá e a graça é um equívoco que tem sido perpetuado ao longo dos tempos. A Torá, que é a instrução de Hashem para a vida, não deve ser vista como uma lei que cerceia a liberdade, mas sim, como um guia que nos conduz à verdadeira liberdade e felicidade, afinal diz: Assim observarei de contínuo a tua lei para sempre e eternamente.
A palavra "lei" como sinônimo de Torá é um erro, pois para leis, regras, normas, decretos existem palavras específicas. Mal interpretada, Torá como lei evoca uma ideia de restrição e opressão. É falsa a ideia porque quando se diz ‘conhecereis a verdade e ela te libertará’ a expressão palavra está como sagradas escrituras que é o sinônimo de Torá.
A essência da Torá é a instrução de liberdade que D’us deu ao homem. Ela nos mostra o caminho para vivermos em harmonia com Ele, com os outros e com nós mesmos, paz interior.
A graça, por sua vez, não é liberdade, mas misericórdia ou bondade. Ela nos oferece a oportunidade de nos arrependermos e sermos perdoados por nossos erros, mas não deve ser confundida com uma licença para agir de forma contrária à Torá!
A verdadeira compreensão da Torá e da graça é que elas não são opostas, mas sim complementares. A Torá nos mostra o caminho para a vida, enquanto a graça nos oferece a oportunidade de nos reconciliarmos com Deus quando falhamos.
Bem, você está razoavelmente esclarecido sobre este grande engano. Resta tomar a atitude esperada de quem ama a D'us acima de todas as coisas, a saber se comprometer com Hashem, fazer teshuva (arrependimento e voltar as veredas antigas, a saber a Torá).
A Torah de ADONAI é perfeita, restaura a alma.A instrução de ADONAI é clara, faz sábio o tolo.
Os preceitos de ADONAI são retos, e alegram o coração.A mitzvah de ADONAI é pura, ilumina os olhos.O temor de ADONAI é claro, dura para sempre.As leis de ADONAI São verdadeiras, são todas elas retas, mais desejáveis que o ouro, muito mais que o fino ouro, também mais doces que o mel e o destilar dos favos.Por meio delas, seu servo é corrigido; em obedecer a elas, ha grande recompensa. Salmos 19. 08-12
BH
Muito Legal esses Estudos!
ResponderExcluirEstou a menos de 3 anos conhecendo o Judaísmo, e hoje estou com a minha visão e mente mais aberta pro Eterno. Devido a observação da Torah.
Que o Eterno Abençoe essa página de Estudos 👏🖖🖖🖖📚📚📚📖📖