Existem vários céus, e existem infernos?

 



"Eis que dos céus, e até o céu dos céus, pertence ao Eterno, teu D'us, a terra e tudo o que nela há." Devarim (Deuteronômio) 10.14

A palavra céus (שָׁמ֫יִים shamayim) aparecem 421 vezes na Tanach (Bíblia).

A mística judaica, também conhecida como Cabalá, nela se busca compreender os mistérios da criação e a relação entre o mundo físico e o divino. A Cabalá descreve os céus como uma realidade espiritual composta por diferentes níveis ou planos de existência, desta forma, por esta linha de explicação, existem sete níveis de céus, conhecidos como "Sheva Shamayim" (sete céus).

 Cada nível representa um estágio mais elevado de proximidade com D'us e uma maior revelação de Sua luz. 

Nos escritos nazarenos, no século 1º desta era, na segunda carta aos coríntios tem um registro histórico  de uma pessoa que foi levado ou terceiro céu: assim diz o texto:

Conheço um homem messiânico que, há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe), FOI LEVADO AO TERCEIRO CÉU.  E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe), foi levado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis (II Coríntios 12.2-4).

Portanto, aqui temos uma referência extra ortodoxa, porém 100% judaica pois que está narrando esse fato do 3º céu, é um dos principais rabinos do 1º século.

Não há possibilidade de saber sobre estes níveis de céus se não for pela cultura judaica!

Esses níveis são descritos como esferas ou dimensões espirituais, e não como lugares físicos no sentido terreno, assim como os malachim (traduzidos como anjos, não são seres corporais mas vetores espirituais, que não tem vontade própria).

Embora os céus sejam geralmente considerados como uma realidade espiritual metafisica, nossos sábios também ensinam que é possível experimentar uma conexão com os céus aqui na Terra. No Tratado de Berachot 7a, diz que o Rabino Eliezer estava orando fervorosamente, e sua devoção era tão intensa que ele começou a flutuar no ar. Os outros sábios que estavam presentes ficaram impressionados com essa visão e exclamaram: 'Olhem, o Rabino Eliezer está flutuando no ar!'

No entanto, Rabino Yehoshua, um dos sábios, questionou essa experiência incomum. Ele disse: 'Não devemos medir a conexão com os céus apenas por fenômenos físicos. A verdadeira conexão com os céus é medida pela sinceridade e devoção do coração.'

Rabino Yehoshua então citou um versículo do Livro de Deuteronômio (4:39): 'E saberás hoje e considerarás em teu coração que o Eterno é D'us, em cima nos céus e embaixo na terra; não há outro.'

Com essa citação, Rabino Yehoshua enfatizou que a verdadeira conexão com os céus não é alcançada por meio de fenômenos físicos, mas sim por meio da compreensão e da devoção interior. Ele argumentou que a conexão com os céus é alcançada por meio da sinceridade e da devoção do coração ao serviço de D'us.

Pelo que se infere, existe a possibilidade de ser elevar (que foi traduzido como “FOI LEVADO AO TERCEIRO CÉU”) através de práticas espirituais (oração, o estudo da Torá), prática da caridade, da justiça e da bondade, ou seja, quando a pessoa se torna um recipiente cheio de Luz, como diz o Rab. Isaac Shapiro, em seus vídeos.

A Cabalá ensina que a Terra é um reflexo do mundo espiritual e que podemos trazer a presença divina para o nosso mundo através de nossas ações e intenções. Portanto, pode-se dizer que, de certa forma, o céu pode ser experienciado por quem pratica a Torá,  e busca uma conexão mais profunda com D'us.

Para não alongar muito, valor diretamente aos sete céus, que são diferentes níveis dos céus, que são descritos como sete "palácios" ou "moradas", encontrados no "Sefer Hechalot" (Livro das Moradas Celestiais). 

Cada nível representa um estágio específico de proximidade com HaShem, e também de conexão espiritual (Zohar e o Sefer HaBahir).

Os sete níveis dos céus são:

Vilon: Este é o nível mais baixo dos céus, onde as almas experimentam uma conexão inicial com D'us. É uma etapa de purificação e preparação para níveis mais elevados.

Rakia: Neste nível, as almas experimentam uma maior proximidade com Hashem e uma maior compreensão espiritual. Elas são capazes de se conectar com a sabedoria divina e receber revelações espirituais.

Shechakim: Aqui, as almas experimentam uma profunda união com Hashem e uma sensação de paz e harmonia. Elas são capazes de se conectar com a energia divina e experimentar uma alegria espiritual intensa. No caso do homem nazareno, acima dito, foi este nível que ele experimentou.

Zevul: Neste estágio, as almas experimentam uma maior proximidade com a Presença de HaSHem, sendo capazes de se conectar com a essência do nosso D’us e experimentar uma sensação de plenitude espiritual.

Ma'on: é considerado o penúltimo dos níveis mais elevados dos céus. É uma esfera celestial onde os malachim e serafim residem e onde a presença de HaSHem é intensamente sentida. É descrito como um lugar de grande santidade e esplendor, onde a luz divina brilha de forma intensa.

Machon: Neste nível, as almas experimentam uma união completa com a Divindade e uma imersão total na Luz Divina. Elas são capazes de se conectar com a essência divina e experimentar uma sensação de unidade e transcendência. Este é considerado um nível celestial onde ocorre o estudo e a análise das leis e ensinamentos. É descrito como um lugar de sabedoria e conhecimento profundo, onde os malachim e serafim se dedicam ao estudo da Torá e à compreensão dos mistérios de D’us.

Aravot: Este é o nível mais alto dos céus, onde as almas experimentam uma união perfeita com a Divindade e uma total compreensão na Luz Divina. As almas são capazes de se conectar com a essência divina e experimentar a sensação de plenitude e perfeição espiritual.


É um tema profundo, que me restrinjo apenas em apresentar tais níveis, desses conceitos cabalísticos, fazendo parte da cultura judaica, não sendo encontrado na Tanach  de forma explicita em forma de níveis, exceto nos escritos nazarenos do homem que “FOI LEVADO AO TERCEIRO CÉU”.

Por outro lado, busquei saber se existe também níveis para o gehinom, e para minha surpresa, sim.  

De acordo com a tradição judaica, o gehinom (ou Geena) é frequentemente traduzido como "inferno". Contudo "Gehinom" ( גֵּיהִנּוֹם) é conceituado como uma área de punição espiritual após a morte para aqueles que cometeram transgressões graves (contra a Torá) durante suas vidas, conforme se infere da discussão de Rosh Hashaná 16b. Nessa passagem, relata que o Rabino Akiva ensinou que a punição em Gehinom é temporária e limitada a um período máximo de doze meses. Ele baseia essa afirmação em um versículo do Livro de Isaías (66:24), que descreve Gehinom como um lugar onde "seu verme não morre e seu fogo não se apaga". O Rabino Akiva interpreta essa passagem como uma referência a um período limitado de punição, pois um verme não pode viver indefinidamente sem alimento e um fogo não pode queimar eternamente sem combustível. No entanto, o Rabino Yehoshua discorda e argumenta que a punição em Gehinom pode ser eterna para aqueles que cometeram transgressões graves. Ele baseia sua opinião em outro versículo do Livro de Isaías (66:24), que descreve Gehinom como um lugar onde "seu verme não morre e seu fogo não se apaga". O Rabino Yehoshua interpreta essa passagem como uma referência a uma punição eterna, pois o verme e o fogo continuam a existir, mesmo que não consumam completamente sua presa.

Para não delongar muito, vamos aos sete níveis de gehinom são:

She'ol: Este é o nível mais baixo do Gehinom, onde as almas são confrontadas com a realidade de suas ações e são incentivadas a se arrepender.

Tit haYaven: Neste nível, as almas são submetidas a um processo de purificação através do fogo. É um estágio de purificação intensa, onde as almas enfrentam as consequências de suas mais ações.

Sha'arei Dumah: Neste nível, as almas são confrontadas com a escuridão e o medo, representando a consciência de suas ações negativas.

Sha'arei Tzelamim: Aqui, as almas são confrontadas com a ilusão e a falsidade de suas ações passadas. Elas são incentivadas a confiar na verdade e a se arrepender sinceramente.

Sha'arei Chibut HaKever: Neste estágio, as almas experimentam um tipo de "dor" espiritual, onde são confrontadas com a dor causada por suas ações negativas.

Sha'arei Ruach HaTumah: Neste nível, as almas enfrentam a impureza espiritual e são purificadas através de um processo de separação do mal.

Sha'arei Tumah: Este é o nível mais alto do Gehinom, onde as almas são finalmente purificadas e prontas para entrar no Olam Haba.

Na tradição judaica, existe uma história conhecida como "O Diálogo entre Abraão e Lázaro", que é mencionada no Talmud, no tratado de Eruvin 19a. Nessa história, Abraão está no Gan Eden (Paraíso) e Lázaro está no Gehinom (Inferno). Lázaro, neste contexto, era um mendigo que costumava ficar à porta de Abraão, morreu e foi levado para o Gehinom. Enquanto isso, Abraão também faleceu e foi para o Gan Eden. Lá, Abraão viu Lázaro sofrer no Gehinom e decidiu interceder em seu favor.

Abraão intercedeu a Hashem e disse: "Mestre do Universo, Lázaro, que costumava ficar à minha porta, está machucado no Gehinom. Por favor, permita-me ajudá-lo de alguma forma". Hashem respondeu a Abraão, dizendo que Lázaro já havia recebido sua recompensa na vida terrena e que agora ele estava colhendo as consequências de suas ações.

Esta história é uma alegoria para ensinar aspectos da vida espiritual e prática, relativamente à obediencia às instruções de D'us, contudo é um registro da cultura judaica de um diálogo de alguém sendo disciplinado, após morte, por sua conduta em vida.

Vale a pena relembrar que destes conceitos são cabalísticos e não são explicitamente mencionados na Torá, e que são usados para ilustrar o processo de purificação e correção das almas após a morte. 

Acreditamos que Deus é misericordioso, é Juiz fiel e justo que oferece oportunidades para as almas se acertarem e se aproximarem dEle.

BH!!!

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