Mensageiro (מלאך) foi traduzido como anjo (homem com roupa e asas?)

Mensageiro (מלאך) foi traduzido como anjo (homem com roupa e asas?)

A ideia do anjo na Torá nada tem a ver com um homem com asas. 

A palavra מלאך, malach, significa mensageiro, e existem 10 tipos de mensageiros de Hashem, como por exemplo: 

Chayot HaKodesh (seres viventes sagrados) mencionados no livro de Ezequiel.

Serafim (ardentes), que são mencionados no livro de Isaías, descritos como tendo seis asas. 

Ofanim (rodas), são mensageiros associados à esfera celestial dos tronos.  

Malachim HaShareit (mensageiros servos), que são os mensageiros que são enviados por Hashem para cumprir tarefas específicas. 

Malachim HaMavet (anjos da morte), são os responsáveis por levar as almas das pessoas quando chega a hora de partir deste mundo; entre outros.

Inicialmente é importante ressaltar que estes mensageiros são seres espirituais. Hashem é espírito e os mensageiros מלכים, portanto, eles também são. Assim, não tem forma tampouco aparência de homem com asas e penas!! 

Essas 10 categorias de mensageiros é uma forma de materialização de um ser espiritual voltado para a dimensão material para enquadrar na compreensão humana. Assim, as descrições físicas atribuídas a eles são simbólicas e não devem ser interpretadas literalmente. É como no momento da morte de uma pessoa: A alma terá a aparência e forma igual à da pessoa falecida? Existe gordura espiritual para que a alma seja gordinha. Estará vestida ou sem roupa? Com aparência do momento da morte ou mais novo? 

A forma do 'anjo' é descrita nas visões proféticas, como as de Ezequiel, é para nos ajudar a compreender sua natureza e sua função no universo criado por Hashem.

Fica aqui mais um enigma da cultura ocidental, além de perguntar se anjo tem sexo, acrescente-se: pode pegar piolhos?

Na Bíblia hebraica encontramos várias narrativas em que anjos se apresentam a seres humanos, como:

Na parashá Vayera, aparecem três homens enviados por Deus a Abraham, para anunciar que Sara teria um filho e também os que iriam para destruição de Sidom e outras quatro cidades, e estes, eram mensageiros espirituais!

Na porção Chaie Sara, Avraham diz para Eliezes que o mensageiro irá com ele, e não aparece na narrativa nenhum malach!

Juízes 13.3, um mensageiro anunciou a Manoá o nascimento de seu filho Sansão; 

Outro, um mensageiro foi enviado a Gideão, filho de Joás, a fim de convencê-lo a liderar Israel na guerra contra Midiã, entre outros exemplos.

Os mensageiros costumam manifestar-se na forma de pessoas e têm o poder de tornarem-se invisíveis, como ocorreu com o anjo que impediu a morte de Balaão. Geralmente, os anjos não possuem nomes próprios e, em duas histórias, recusam-se a revelar seus nomes quando questionados. No entanto, no livro de Daniel, são mencionados dois anjos pelo nome: Miguel e Gabriel.

De acordo com a tradição judaica, Hashem governa o mundo tanto através das leis físicas quanto espirituais. Os malachim, ou anjos, são considerados mensageiros de Hashem e desempenham um papel importante na execução de Sua vontade. Os malachim não são seres físicos como nós, humanos, mas sim seres espirituais. Eles não possuem corpos físicos e, portanto, não têm forma antropomórfica. A descrição de malachim na Torá e nos textos rabínicos é simbólica e metafórica, destinada a transmitir conceitos científicos complexos de uma forma que possamos entender. Hashem é descrito como "ruach" na Torá, o que significa "espírito" ou "sopro". No entanto, a natureza de Hashem é única e transcendente, e não pode ser comparada aos malachim.

Os malachim também são descritos como "ruach", mas com limitações, pois são seres criados por Hashem e estão sujeitos à Sua vontade. Os malachim são seres espirituais poderosos e sagrados, que cumprem as ordens de Hashem e desempenham várias funções no mundo.

Os malachim, em alguns casos, eles podem desempenhar um papel em testar a fé e a obediência das pessoas. Hashem criou os seres humanos com livre arbítrio, e é para que a pessoa exercite a sua capacidade de escolher entre o bem e o mal, entre obedecer aos mandamentos da Torá (instruções para elevação) ou seguir seus próprios instintos. 

Os desafios e testes que enfrentamos na vida fazem parte do nosso processo de crescimento espiritual e desenvolvimento da alma. Nisto, os malachim, podem desempenhar um papel nesse processo, mas seu objetivo é ajudar a pessoa a se fortalecer e aprimorar sua conexão com Hashem, não enganá-la. É importante lembrar que, como seres humanos, temos a responsabilidade de tomar decisões éticas e seguir os ensinamentos da Torá. Embora os malachim possam desempenhar um papel em nosso caminho espiritual, somos nós que tomamos decisões e somos responsáveis por nossas ações.

O Talmud discute sobre as funções e o antropoformismo do malach. No Tratado de Sanhedrin 38b: Nesta passagem, há uma discussão sobre a aparência dos malachim. O Talmud afirma que os malachim não têm forma física, mas podem assumir diferentes formas para cumprir suas missões. Isso implica que eles não têm um antropomorfismo fixo, mas podem se manifestar de maneiras diferentes, dependendo da situação. 

Tratado de Chagigah 16a: Nesta passagem, há uma discussão sobre a função dos malachim como intermediários entre Hashem e os seres humanos. O Talmud afirma que os malachim são enviados por Hashem para transmitir mensagens e cumprir Sua vontade. Eles são descritos como mensageiros divinos que desempenham um papel importante na comunicação entre o céu e a terra.

 Tratado de Berachot 4b: Nesta passagem, há uma discussão sobre a natureza dos malachim. O Talmud afirma que os malachim são seres espirituais e não têm corpos físicos como os seres humanos. Eles são descritos como "ruach" (espírito) e não possuem forma antropomórfica. Essa passagem enfatizou a natureza espiritual dos malachim e sua diferença na relação com os seres humanos. 

O estudo dessas fontes nos ajuda a compreender melhor o papel dos malachim na tradição judaica e sua relação com Hashem e os seres humanos.

E quando começou na cultura judaica os malachim sendo apresentado com duas asas, semelhantes aos pássaros?

Os malachim tendo asas, semelhantes a pássaros, é encontrada em várias fontes judaicas, mas não há um consenso claro sobre quando exatamente essa representação começou na cultura judaica. Essa imagem pode ter sido desenvolvida ao longo do tempo, influenciada por diferentes tradições e interpretações. Uma das primeiras referências a malachim com asas pode ser encontrada na visão profética de Yechezkel (Ezequiel) no Tanach (Bíblia Hebraica). Em Yechezkel 1:6-11, ele descreve uma visão de seres celestiais com quatro faces e quatro asas. Essa descrição pode ter influenciado a representação posterior dos malachim com asas.

Além disso, a tradição judaica pode ter sido influenciada por outras culturas e tradições ao longo dos séculos. Por exemplo, a arte e a iconografia grega, Hermes, o deus que interpretava as mensagens de Zeus (daí hermenêutica) tinha asas nos pés (tipo Peter Pan) e na cabeça, e da cultura cristã, que frequentemente retratam anjos com asas. Essas culturas podem ter tido algum impacto na representação dos malachim na cultura judaica.

Por fim, malachim são mensageiros de Hashem para cumprir funções próprias do mundo espiritual, que é o mundo real e duradouro.