Interpretação bíblica + texto traduzido= Equívoco ²


 A fonte do engano ou de um sistema de engano, e a interpretação mal feita.

Vamos analisar a tradução cristã deste texto: "Eu não vim revogar a lei ou os profetas". E já adianto que esta é, seguramente, a pior opção.

Um bom trabalho fez Tzadok, na tradução da Peshita, e para explicitar a opção da palavra que escolheu na sua tradução, indicou na nota de rodapé, que, a palavra "revogar", de Mateus 5.17, essa palavra pode ser traduzida como: "soltar, romper, repudiar (Peshitta: XX, esh're). (...)

Texto Grego (ΝΑ28): καταλῦσαι (katalusai), que denota "destruir, abolir, demolir, derrubar".

Só não considerei o comentário dele sobre o texto em hebraico de DuTillet" porque eu, não considero, porque ele foi composto na antiguidade tardia (do ano 275 ao 750) apenas isto, o que não leva nenhum demérito à tradução que ele fez.

Tzadok optou na tradução da peshita para português: "Não vim afrouxar" (5:17) para o tradicional texto "Eu não vim revogar a lei ou os profetas".

A lógica que ele utilizou para optar por "afrouxar" é que: 

"Yeshua veio para confirmar a Torá, porque ele é a própria Torá Viva! Dizem as Escrituras que: 1) a Torá é a Palavra (SI 119:89 e 92), 2) Yeshua é a Palavra (Jo 1:1 e Ap 19:13), logo, Yeshua é a Torá. Yeshua cumpriu a profecia de Baruch de que a Torá se manifestaria sobre a terra e viveria no meio dos homens, isto é, Yeshua é a própria Torá/Palavra que se fez carne e habitou entre nós: "Depois disso, apareceu sobre a terra e no meio dos homens conviveu. Ela é o livro dos preceitos de Elohim, a Torá que subsiste para sempre" (Baruch 3:38 e 4:1).

No Talmud Bavli, m. Shabat 116b, o rabino Gamli'el cita Mt 5:17 da seguinte forma: "Eu não vim tirar a Torá de Moshé, e eu não vim acrescentar [algo] à Torá de Moshé".

O Targum de Yeshayahu (Isaías) 4:2 relaciona a manifestação do Mashiach com o cumprimento da Torá: "Naquela época, o Mashiach de YHWH será uma alegria e uma honra, e aqueles que cumprem a Torȧ serão grandes e gloriosos para a libertação de Yisra'el".

E conclui, em Mt 5:17, asseverou Yeshua que não veio afrouxar, mas completaria bastante a Torá. Neste sentido, a literatura rabínica afirma que o Mashiach trará uma nova Torá, revelando aspectos ocultos da Torá de Moshé: "pois no futuro, o Santo, bendito seja, se sentará e explicará uma nova Torá, que será dada pelo Mashiach" (Yalkut Shimoni - Yeshayahu 429). "Ou seja, haverá uma tremenda revelação da sabedoria da Torá que será considerada uma 'nova' Torá" (Rabino Menachem Brod). "Uma nova Torá emergirá de mim. Novas leis emergirão de mim" (Vayikrá Rabá 13:3). "A Torá que uma pessoa aprende neste mundo é vazia comparada à Torá do Mashiach" (Kohélet Rabá 11:8).

Segundo o Rebe de Lubavitch, haverá uma "nova Torá" na Era Messiânica que será revelada pelo Mashiach, que extrairá segredos que estão escondidos dentro da Torá de Moshé.

Por fim, cita-se o magistério do Rabino Chaim Kramer (Breslov): "Mashiach revelará a verdade, o real Novo Testamento, a nova aliança que Deus fará com o Seu Povo - porque Mashiach será capaz de revelar o sentido profundo de cada face da Torá".

Como se observa nenhuma das citações fala sobre apertar ou afrouxar a Torá, mas que a Torá continuará existindo e que o Mashiach vai trazer uma nova Torá, que é a mesma, contudo com um outro nível de entendimento prático. Afrouxar não está errado, é uma lógica que ele utilizou.

Contudo, sem qualquer pretensão, melhor seria outra palavra, utilizanso as mesmas fontes que ele citou, porém com outra lógica.

A tradução cristã "revogar", foi escolhida porque é o consectário lógico de lei. Se o tema é jurídico, acabar-se com uma lei, por lógica terminológica seria "revogar" e não destruir, quebrar ou acabar.

Ocorre, que a palavra "lei" do texto biblico "não pense que vim revogar a lei ou os profetas" está como sinônimo de a Torá de Moisés. 

A questão é que Torá em hebraico não é lei e sim "instrução", uma espécie de passo-a-passo, instruções práticas de vida.

A palavra "Torá" é traduzida filologicamente como "ensinamento" ou "instrução". Uma instrução ruim, mal interpretada, destrói o seu conteúdo.

A raiz da palavra "Torá" em hebraico é "yarah", que significa "lançar" ou "apontar". Portanto, a Torá é vista como uma orientação divina que é lançada ou apontada para a humanidade.  Denotando ser, um manual para elevação.

A Torá é considerada a base do judaísmo,  contém mandamentos, leis, histórias e ensinamentos que guiam a vida o povo judeu e toda humanidade (leis noéticas).

Portanto, Torá é muito mais que lei.

Contudo, a palavra Tira é instrução, conjunto ações praticas para o dia a dia, como:

Usar balança justa, não mentir, respeitar idosos, obedecer os mandamentos, etc.

Se uma pessoa faz um comentário das Sagradas Escrituras dizendo, por exemplo:

Que não se deve obedecer aos mandamentos de Deus;

Que dando graças, pode comer o que quiser, inclusive comida que Ele manterá proibida no futuro reino do Mashiach; ou

Que não se deve observar o dia de descanso no shabat; ou

Que as suas festas eternas, foram canceladas ou substituídas por outras; ou

Que a estrutura que Deus deu a seu povo, com um kohem para orientar a aproximação da pessoa a Deus, etc. etc.

Quem fez estas doutrinas, dizendo que são interpretações de textos bíblicos, no sentido de compreender a mensagem do texto, eu pergunto: O que ela fez, edificou ou destruiu a mensagem?

Na cultura judaica, iria dizer que esse intérprete destruiu, quebrou a Torá, em sua interpretação, porque não interpretou, mas criou outra coisa, algo novo e completamente diferente da mensagem original.

Assim, com base na lógica da instrução para moldar comportamento, em que uma instrução mal dada destrói um ensino, a melhor tradução para a frase:

"Não pense que vim revogar a Lei ou os profetas", usando as mesmas referências de Tzadok ("soltar, romper, repudiar (Peshitta: XX, esh're). (...) Texto Grego (ΝΑ28): καταλῦσαι (katalusai), que denota "destruir, abolir, demolir, derrubar") seria:

"Não penseis que vim destruir a Torá ou os Profetas; não vim para abolir, vim para cumprir"


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