Linha Tênue entre oração e idolatria: "em nome de"



      A prática de rezar e pedir a HaShem algo "nos méritos de" um tzadik é conhecida como hishtadlut ou "hitpa'alut b'tzidkat tzadikim" que significa buscar a intercessão dos justos.

       A palavra "hishtadlut" é um termo hebraico que pode ser traduzido de várias maneiras, dependendo do contexto em que é usado. No geral, "hishtadlut" pode ser traduzido como "esforço", "empenho" ou "iniciativa".

       No contexto espiritual e religioso, "hishtadlut" refere-se aos esforços e ações que uma pessoa realiza para se aproximar de HaShem e cumprir os mandamentos da Torá, ou seja, inclui a prática da oração, estudo da Torá, cumprimento das mitsvot (mandamentos) e, ainda,  a busca de uma vida justa e piedosa. Contudo, já adianto, que JAMAIS, sugéresse a ideia de, ao estar junto à tumba de Avraham, Shemuel, David ou qualquer outro tzadik, pedir algo para ele. Isto seria idolatria e quem pratica idolatria é punido com a morte espiritual.

      Noutro aspecto, num contexto mais amplo, “hishtadlut” também pode se referir aos esforços que uma pessoa realiza na sua vida cotidiana para alcançar seus objetivos e cumprir suas responsabilidades, portanto, nada a ver com aspectos 'religiosos', ou seja, estudo, trabalho árduo, planejamento e ações para alcançar um determinado resultado desejado.

      Portanto, "hishtadlut" dependerá do contexto específico, se ações para vida social, profissional, familiar, etc. ou ações planejadas, esforço para se elevar e obter melhor conexão com Hashem.

       Na vida religiosa, a prática do hishtadlut envolve fazer uma conexão espiritual com um tzadik, um indivíduo justo e piedoso, e pedir a HaShem que atenda às nossas preces em virtude dos méritos e da retidão desse tzadik.

       A ideia por trás dessa prática é que os tzadikim têm uma conexão especial com HaShem e são considerados intermediários entre o povo e D'us. Ao pedir a HaShem algo "nos méritos de" um tzadik, estamos registrando a grandeza espiritual desse indivíduo e buscando sua intercessão em nosso favor.

      A prática de rezar nos méritos de um tzadik não é uma obrigação religiosa e não substitui a responsabilidade individual de se aproximar de HaShem por meio da oração pessoal e do cumprimento dos princípios e Mitzvot da Torá.

      Essa prática de 'conexão com um tzadik' não deve ser vista como uma forma de idolatria, mas sim como um meio de buscar inspiração e apoio espiritual.

       Essa prática de buscar a intercessão de um tzadik  através de seus méritos, é antiga.

       Durante o período do Segundo Templo houve vários tzadikim que eram amplamente aclamados e reverenciados pelo povo judeu.

       Um dos tzadikim mais aclamados e reverenciados durante o período do Segundo Templo foi o profeta e líder espiritual Ezra, conhecido como Ezra, o Escriba. Ele desempenhou um papel fundamental na restauração do judaísmo após o exílio babilônico, liderando o retorno dos judeus a Jerusalém e promovendo a observância da Torá.

       Esdras era conhecido por sua sabedoria, piedade e dedicação à Torá. Ele foi considerado um exemplo de tzadik e muitos judeus buscaram sua intercessão e orientação espiritual. Sua influência e ensinamentos tiveram um impacto significativo na vida religiosa e espiritual do povo judeu durante o período do Segundo Templo.

      A intercessão de um tzadik, através de seus méritos, pelo visto, era uma prática antiga no judaísmo e continua a ser observada, em diferentes formas, até os dias de hoje. No judaísmo ortodoxo, reformista, nazareno até hoje é incentivada.

        A questão específica de buscar a intercessão de um tzadik através de seus méritos, não é discutida explicitamente no Talmud. No entanto, existem algumas passagens que podem ser relacionadas a essa prática.

      No tratado de Berachot (34b), há uma discussão sobre a eficácia da oração em grupo. Nessa passagem, é mencionado que quando um indivíduo reza em grupo, suas preces são mais propensas a serem atendidas, pois há uma maior probabilidade de que pelo menos uma pessoa no grupo seja digna e suas preces sejam aceitas por HaShem. Isso pode ser interpretado como uma indicação de que a intercessão de um tzadik pode ter um impacto positivo nas preces de outras pessoas.

    Além disso, no tratado de Sanhedrin (46a), há uma discussão sobre a importância de seguir os ensinamentos dos sábios e líderes justos. Nessa passagem, é mencionado que aqueles que seguem os ensinamentos dos sábios são considerados como se estivessem "andando na presença de HaShem". Isso pode ser interpretado como uma indicação de que seguir os ensinamentos de um tzadik pode levar a uma maior proximidade com HaShem e, potencialmente, influenciar a aceitação das preces.

      Embora essas passagens não discutam diretamente a prática de buscar a intercessão de um tzadik através de seus méritos, elas fornecem uma base conceitual que pode ser relacionada a essa prática.

       Na tradução das Sagradas Escrituras pelo cristianismo, é curioso observar que na escolhas das várias palavras que poderiam ser traduzidas, de uma expressão em grego ou hebraico, optou-se por aquela que melhor harmonizasse com a teologia criadas por este seguimento religioso. Por exemplo, para a expressão cultural e religiosa judaica de rezar nos méritos de um tzadik, para o português, foi utilizada a palavra grega ὄνομα (onoma) que pode significar: um nome, autoridade ou causa (mérito).

       Por rechaço do cristianismo ao judaísmo desde sua criação, nas traduções cristãs, optou-se pela significação da palavra grega 'em nome de", em lugar da expressão "nos méritos de", que seria 100%  judaica e refletia esta cultura e prática, de rezar nos méritos de um tzadik, como no período do segundo templo se fazia.

       Portanto, é uma prática orar/rezar a D'us, usando a expressão: "nos méritos de..."

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